Você anda se sentindo cansado(a)?

ImensaMente
3 min readMay 7, 2021

texto por Stephanie Correia

Fotografia de Zukiman Mohamad

A pandemia e seu isolamento social nos permitiu refletirmos sobre uma série de temas, dentre eles, como andávamos cansados e sem tempo para fazer as coisas. Porém, mais de um ano depois do início desse cenário, por acaso você ainda se sente exausto? Claro que os motivos são inúmeros, mas alguns deles podem estar enraizados no nosso tecido social.

Essa é uma das análises que o filósofo contemporâneo sul-coreano Byung-Chul Han traz em sua obra “Sociedade do Cansaço” (de 2010, lançado pela Editora Vozes no Brasil). Trata-se de um pequeno livro, mas nem por isso com menor impacto. Para analisar nossa sociedade atual, ele revisita a Modernidade do século XX (principalmente após a Segunda Guerra Mundial) analisando seus principais aspectos:

  • Nessa época imunológica, uma das principais característica era a do ataque e da defesa, onde claros inimigos que representavam perigo eram eliminados justamente por causa da sua alteridade;
  • Uma importante característica era a disciplina, como identificada por Foucault. Os sujeitos deviam submeter-se de maneira cega, onde reinava justamente a negatividade e a proibição (“não se pode fazer isso ou aquilo”). Quem transgredisse a regra era louco ou delinquente.

Ao adentrar então na nossa sociedade contemporânea do século XXI, o filósofo contrapõe importantes pontos àqueles apresentados previamente:

  • Pode-se identificar uma “violência da positividade”, onde dentro de uma sociedade permissiva e pacificada (pelo menos a primeira vista, onde as grandes guerras dos antigos modelos estão muitíssimo diminuídas) não há claramente o outro inimigo e, portanto, a violência torna-se velada;
  • Os sujeitos passam a ser caracterizados pelo desempenho e pela produção. Não há mais a instância externa dominadora, ela foi internalizada. A positividade do poder (de sempre poder fazer, ser, ter) produz indivíduos cansados e fracassados. Portanto, a internalização do dominador não leva à liberdade, mas sim, à constante coação.
  • Outra característica é o excesso de estímulos e informações. Nós rapidamente alternamos o nosso foco entre diferentes estímulos, sem mergulharmos profundamente em nenhum deles. Nessa acelerada velocidade também não há espaço para o tédio, para o momento de pausa, para o descanso que não seja produtivo.

Em um ambiente onde sempre se pode mais e esse discurso é fortemente reforçado em todas as mídias, o sentimento de alcançar uma meta se rarefaz (quando não o é inexistente). O algoz interno nos força constantemente a ultrapassarmos limites, nos autoculpabilizando quando não acompanhamos esse ritmo frenético produtivo ou quando tentamos minimamente desfrutar momentos de gratificação. Com frequência ficamos esgotados e cansados de lutarmos contra nós mesmos.

Como maneiras de combater e lidar melhor com essa sociedade do desempenho, o filósofo retoma a importância do tédio (ócio criativo) e da reapropriação do tempo vivido. Vale o esclarecimento sobre o que é esse tédio que o autor aborda: trata-se do momento profundo de contemplação e a pausa, quase como um grito de resistência no meio da correria da vida cotidiana. Quando nesse estado contemplativo de repouso, podemos inclusive focar nossa atenção de maneira mais profunda justamente naquilo que nos é mais valioso.

A discussão sobre o livro definitivamente não fica restrita aos pontos aqui trazidos, mas gostaríamos de saber o que vocês acharam dessa reflexão! Curtiu? Já leu a obra? Bora conversar e aumentar a nossa consciência sobre o assunto!

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