COVID-19 e a retomada da "vida lá fora"

ImensaMente
4 min readOct 26, 2021

por Stephanie Correia

Um artigo científico publicado em março/2021 pesquisou entre mais de 13 mil participantes de 11 países como esteve a saúde mental entre junho e agosto de 2020 do período de pandemia. Esse estudo foi realizado por 15 pesquisadores de diferentes países, em colaboração com a Equipe de Pesquisa Colaborativa Global do COVID-19 e analisou as informações de adultos (entre 18 e 34 anos) na Espanha, Estados Unidos, Brasil, Bulgária, China, Índia, Irlanda, Macedônia do Norte, Malásia, Singapura e Turquia. O estudo fez a importante ressalva de que os governos adotaram diferentes medidas de segurança em momentos também diferentes, e isso levou à possíveis efeitos díspares na saúde mental das comunidades. O estudo avaliou não só as diferenças nos níveis de ansiedade e depressão entre os países, mas também encontrou correlação entre os altos níveis desses sintomas quando houve maior exposição individual ao COVID-19.

E sabe qual o país com maiores índices de ansiedade e de depressão? Pois bem, o nosso…! Muitas pessoas que já apresentavam algum quadro tiveram seu o agravamento, enquanto tantas outras enfrentaram um desequilíbrio psicológico causado pelas condições que a pandemia do COVID-19 nos impôs. Nossos medos foram amplificados e pareciam estar sob um holofote: medo de contrair a doença, de transmitir para um ente querido, de morrer, de perder alguém que se ama, de ficar preso dentro de casa, de sair da rua e se expor, de sentir tédio, de ficar hiper-estimulado com tudo rolando online, dentre tantos outros medos.

Quando em algum momento pareceu que estávamos minimamente nos ajustando a um novo modelo de vida, quando estávamos identificando um pouquinho melhor quais eram os nossos conflitos e quais polaridades estavam pulsando, lá vieram as notícias de reabertura do comércio, de retomada do trabalho presencial e de, talvez, o restabelecimento da “vida lá fora”.

Surgem agora novas inseguranças para muitos de nós e precisamos, como fizemos antes, olhá-las, compreendê-las para que, então, possamos contorná-las e lidar da melhor maneira possível. Um grande medo ainda presente é o do vírus: “Será que vou pegar mesmo estando vacinado?”, “Caso eu pegue, vou ter sintomas leves ou ficarei internado como tantos?”, “E se eu for o vetor de contágio para outras pessoas?!”. Esses questionamentos também aparecem em relação às crianças e à população de risco, como idosos e pessoas com comorbidades. “Mas eu não sei mais como me relacionar com as pessoas! Não sei mais me vestir, como me portar, sobre o que conversar…! Como eu falo com alguém que sofre com a morte de um familiar por causa da COVID-19?”. Além desses pensamentos também surgem outros como “O que vão achar de mim, logo eu que engordei tanto durante o isolamento social?”, ou então, “Meu deus vai ter tanta festa! Eu preciso ir em todas para aproveitar tudo o que eu não curti durante a pandemia!”. Ficamos muito restritos às interações sociais online mas elas não substituem o contato físico, e justamente a retomada da vida em espaços compartilhados, nos relacionando com outros tão diferentes de nós está também sendo fonte de ansiedade.

Identificar quais são as nossas inseguranças (afinal, aqui só apontamos algumas delas que compartilhamos por aí), como elas estão aparecendo, acolhê-las e entender que estamos sim todos num momento de (re)estabelecimento de novos hábitos é passo importante para a vida lá fora (e aqui dentro também). Acima de tudo, ou quem sabe justamente na base como fundação, está o comportamento responsável: buscar informações com embasamento científico comprovado; buscar atividades que aconteçam em locais abertos e com circulação de ar; manter o distanciamento social sempre que possível; usar sempre a máscara de proteção, preferencialmente aquela de modelo profissional; e higienizar sempre as mãos.

Como apontado pelo estudo, é de extrema importância o desenvolvimento e testagem de intervenções do poder público que sejam customizadas para cada país, adequadas à cultura de cada região. Essas intervenções devem, entre outras medidas, promover a saúde mental e o enfrentamento resiliente. Além disso, podemos pensar um pouquinho nas estratégias à nível individual.

  • Respeitar os seus limites e colocá-los para os outros de maneira objetiva e gentil faz-se ainda mais importante nesse contexto, além de sinalizarmos quando precisarmos de ajuda ou apoio;
  • Essa gentileza com os outros também pode (e deve!) ser aplicada conosco, para que possamos ser compassivos e um pouco menos rígidos na nossa auto-exigência;
  • Ademais, uma postura que pode nos auxiliar bastante é a de aceitarmos aquilo que está posto pela realidade, olharmos quais são as coisas que estão para além do nosso alcance e aquilo que está dentro do nosso controle e que de fato podemos atuar. A partir disso, identificamos quais são as nossas limitações e estabelecemos o compromisso de aprendermos e nos desenvolvermos com elas, com o contexto no qual estamos inseridos.

Esses são apenas alguns pontos para lidarmos de maneira generosa conosco e com os outros. Lembre-se que todos estamos passando por momentos turbulentos e cada um de nós tem as suas dificuldades e potencialidades únicas! Caso perceba que esteja numa situação difícil, busque a ajuda de um profissional da saúde mental.

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